Até há bem pouco tempo, o ataque isquêmico transitório (AIT) era definido como um quadro de comprometimento neurológico focal com duração inferior a 24 horas. Ou seja, era basicamente um quadro de acidente vascular cerebral (AVC), cujos sintomas desapareciam espontaneamente após alguns minutos ou horas.
A definição atual é um pouco diferente. Segundo a American Heart Association e a American Stroke Association (AHA/ASA), o ataque isquêmico transitório, chamado popularmente de mini-AVC, é um episódio transitório de disfunção neurológica causada por focos de isquemia no cérebro, na medula espinal ou na retina, sem que haja infarto cerebral agudo.
Explicando de forma mais simples, o AIT surge quando uma região do sistema nervoso, habitualmente o cérebro, sofre uma relevante, mas temporária, redução do fluxo sanguíneo, que é suficiente para causar isquemia (restrição do aporte de sangue e oxigênio), mas insuficiente para provocar infarto cerebral (morte do tecido cerebral). O paciente com AIT apresenta sintomas de AVC apenas por um curto período de tempo, geralmente não mais que uma hora. Quando o fluxo de sangue é restabelecido, os sintomas desaparecem espontaneamente.
A definição atual reforça o conceito de que não há infarto cerebral no AIT. Consequentemente, chamar o AIT de mini-AVC acaba não sendo muito adequado, pois pode passar a equivocada ideia de que o ataque isquêmico transitório é igual a um AVC leve ou pequeno. Por definição, AVC e AIT são doenças diferentes, apesar de partilharem mecanismos fisiopatológicos semelhantes, conforme veremos mais à frente.
Ao contrário do que acontece no AIT, para que haja um AVC, a redução do aporte sanguíneo tem que ser longa e grave o suficiente para causar morte de tecido cerebral. A área infartada ser grande ou pequena é irrelevante. Um AVC pequeno não deixa de ser um AVC.
O ataque isquêmico transitório é, na verdade, uma espécie de pré-AVC. O AIT deve ser encarado como um aviso de que há algum problema com circulação sanguínea cerebral. Alguns dados obtidos em estudos reforçam essa tese:
• Até 10% dos pacientes que apresentaram um AIT irão sofrer um AVC dentro de 3 meses.
• Metade dos casos de AVC que surgem após um AIT ocorrem nos dois primeiros dias.
• No prazo de 10 anos, mais da metade dos pacientes que tiveram um episódio de AIT desenvolverão algum evento cardiovascular, geralmente um AVC ou infarto agudo do miocárdio.
• Mesmo com tratamento adequado, cerca de 6% dos pacientes que tiveram AIT acabam desenvolvendo um AVC no prazo de um ano. 12% no prazo de dois anos.
• 15% dos pacientes com AVC atendidos em serviços de urgência relatam um episódio recente de AIT.
Autor: Dr. Pedro PinheiroArquivado em: NeurologiaRevisado e atualizado em 30 Setembro 2018